domingo, 13 de janeiro de 2013

FILME: DE BEM COM A VIDA


De bem com a vida, Anthony Byrne, Irlanda, Imagem Filmes, 2009.



Ellie é uma jovem que abandona a faculdade e vai ao encontro de sua irmã mais velha, Kate, que é dona de uma Residência de Longa Permanência para idosos (antigamente denominado asilo). Pede a ela um emprego de faxineira, pois deseja guardar dinheiro para ir com amigos numa viagem de volta ao mundo. A irmã está vivenciando um momento difícil na Residência devido a alguns idosos que ali residem serem bastante difíceis de relacionamento. Acaba então aceitando a ajuda de Ellie. Contudo a história se passa no período do natal, quando Ellie acaba tendo que cuidar sozinha destes idosos, e aí a trama do filme se desenrola mostrando o dia a dia no local.

Ao assistir o filme, a lembrança do poema “NO MEIO DO CAMINHO”, de Drummond me veio à mente. Todos os envolvidos no enredo, como diz o poema, “tinham uma pedra no meio do caminho”. Mas quem de nós, nesta vida, nunca teve que passar por um caminho onde tem “UMA PEDRA” ?

                                                Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=wzz8NoFYsOs


A estória discute temas como relacionamento intergeracional, o processo de envelhecimento, relações interpessoais, relações fraternas (entre as duas jovens irmãs e duas irmãs de mais idade residentes na casa). Destaca com excelência, o fato de que cada pessoa, quando chega a esta etapa da existência, terá que dar conta de como lidou com a vida ao construir a sua história. Aborda as escolhas realizadas, e as não-escolhas impostas às pessoas durante a sua breve existência terrena, demonstrando como cada personagem lidou com elas, desde a jovem Ellie, passando por sua irmã e os residentes no Lar. Além de priorizar esta discussão, o filme aborda com grande beleza o crescimento que advém das trocas relacionais entre pessoas de diferentes gerações. Paciência, criatividade, solidariedade, empatia, são assuntos discutidos neste filme, ao lado de mentira, impaciência e impertinência.

O filme ajuda a lembrar que a vida cotidiana apesar de ser vivida em grupo, é aquilo que cada pessoa faz dela. Cada ser humano oferece a sua contribuição singular para que a sua vida se torne o que ela efetivamente é. Construímos o nosso cotidiano através do modo como nos posicionamos nele em relação a nós mesmos e as outras pessoas, e em meio a isso, o tempo que é implacável, segue adiante. Assim a história de vida de cada pessoa se constrói permanentemente. Os relacionamentos que as pessoas estabelecem, e como elas se relacionam, podem tornar as suas vidas piores ou melhores. Nada se dá pelo acaso nas relações interpessoais, senão, pelas construções realizadas através das atitudes, dos comportamentos e dos diálogos entre os conviventes. Pensando metaforicamente, pode-se dizer que a vida pode ser amaciada e adocicada, ou feita amargosa, penosa e deprimente, dependendo de como as pessoas se relacionam umas com as outras.

Indico a apreciação desta película por todos que desejam refletir sobre o processo de envelhecimento e o tema das relações intergeracionais. Também é útil à aqueles que se dedicam ao desafiador oficio de ser um cuidador de idosos, ou um trabalhador que realiza sua atividade numa Residência de Longa Permanência para idosos.