De
bem com a vida, Anthony Byrne, Irlanda, Imagem
Filmes, 2009.
Ellie
é uma jovem que abandona a faculdade e vai ao encontro de sua irmã
mais velha, Kate, que é dona de uma Residência de Longa Permanência para
idosos (antigamente denominado asilo). Pede a ela um emprego de
faxineira, pois deseja guardar dinheiro para ir com amigos numa
viagem de volta ao mundo. A irmã está vivenciando um momento
difícil na Residência devido a alguns idosos que ali residem serem
bastante difíceis de relacionamento. Acaba então aceitando a ajuda
de Ellie. Contudo a história se passa no período do natal, quando
Ellie acaba tendo que cuidar sozinha destes idosos, e aí a trama do
filme se desenrola mostrando o dia a dia no local.
Ao
assistir o filme, a lembrança do poema “NO MEIO DO CAMINHO”, de
Drummond me veio à mente. Todos os envolvidos no enredo, como diz
o poema, “tinham uma pedra no meio do caminho”. Mas quem de nós,
nesta vida, nunca teve que passar por um caminho onde tem “UMA
PEDRA” ?
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=wzz8NoFYsOs

A estória discute temas como relacionamento intergeracional, o processo
de envelhecimento, relações interpessoais, relações fraternas
(entre as duas jovens irmãs e duas irmãs de mais idade residentes
na casa). Destaca com excelência, o fato de que cada pessoa, quando
chega a esta etapa da existência, terá que dar conta de como lidou
com a vida ao construir a sua história. Aborda as escolhas
realizadas, e as não-escolhas impostas às pessoas durante a sua
breve existência terrena, demonstrando como cada personagem lidou
com elas, desde a jovem Ellie, passando por sua irmã e os residentes
no Lar. Além de priorizar esta discussão, o filme aborda com grande
beleza o crescimento que advém das trocas relacionais entre pessoas
de diferentes gerações. Paciência, criatividade, solidariedade,
empatia, são assuntos discutidos neste filme, ao lado de mentira,
impaciência e impertinência.

O
filme ajuda a lembrar que a vida cotidiana apesar de ser vivida em grupo, é aquilo que cada
pessoa faz dela. Cada ser humano oferece a sua contribuição singular para que a sua vida se torne o que ela efetivamente é. Construímos o nosso cotidiano através do modo como
nos posicionamos nele em relação a nós mesmos e as outras pessoas,
e em meio a isso, o tempo que é implacável, segue adiante. Assim a
história de vida de cada pessoa se constrói permanentemente. Os
relacionamentos que as pessoas estabelecem, e como elas se relacionam, podem tornar as suas vidas
piores ou melhores. Nada se dá pelo acaso nas relações
interpessoais, senão, pelas construções realizadas através das
atitudes, dos comportamentos e dos diálogos entre os conviventes.
Pensando metaforicamente, pode-se dizer que a vida pode ser amaciada
e adocicada, ou feita amargosa, penosa e deprimente, dependendo de
como as pessoas se relacionam umas com as outras.
Indico
a apreciação desta película por todos que desejam refletir sobre o
processo de envelhecimento e o tema das relações intergeracionais. Também é útil à aqueles que se dedicam ao desafiador oficio de ser um cuidador de idosos, ou
um trabalhador que realiza sua atividade numa Residência de Longa
Permanência para idosos.