domingo, 5 de maio de 2013

CHEGAR E PARTIR: celebração aos 40

 
 
vídeo 1 (ver referencias)
 

 
 
 
 
 
vídeo 2 (ver referencias)
 
"Todos os relacionamentos começam e terminam em separação. (...). Através da corrente sanguínea da nossa mãe começamos a vida (...) mas logo somos afastados da MÂE, separados do cosmo, separados dos deuses, separados para sempre. E terminamos todos os relacionamentos de nossas vidas passando pela morte. Esse hóspede de sorriso assustador chega a fazer parte do rito matrimonial, lembrando aos nubentes que, no momento mesmo em que juram fidelidade eterna, inevitavelmente assumem também o compromisso da perda. (...) Em tempo demasiadamente breve, um deixará o outro – e não penso aqui em divórcio. A prevalecerem as estatísticas, o homem morrerá uns sete anos antes da mulher. (...) Talvez ela parta antes dele. (...) De uma maneiras ou de outra ambos sofrerão a perda do relacionamento (...) ou pelo menos daquilo que expressa de forma mais tangível – a PRESENÇA atenciosa, devotada de um outro. (...) O que talvez significou mais é que TERÃO PASSADO A VIDA NO CONTEXTO DE UMA RELAÇÃO PROFUNDA e sutilmente perdida. (...) Vivemos a vida separados dos outros, dos deuses, e pior de tudo, de nós mesmos. Intuitivamente todos sabemos disso. Sabemos que somos os piores inimigos de nós mesmos. Estamos sempre procurando nos RELIGAR, ENCONTRAR NOSSA CASA NOVAMENTE, e no fim simplesmente a abandonamos de modo diferente. Talvez não haja casa para onde possamos retornar. Não podemos voltar ao útero, embora tentemos (...) assim vivemos sempre desabrigados quer saibamos quer não." (Hollis, 2002, p.11-12 grifo meu).
 
 
                                                                   vídeo 3 (ver referencias)
 
As vezes, há etapas da vida
Nas quais nos afastamos de nós mesmos.
Ou n'outras, ficamos longe uma longa vida inteira.
É isto, as pessoas podem acabar longe de si mesmas.
Se perdem...
N'outras, perdem pessoas... aos poucos, silenciosamente,
E só quando estão LONGE – como diz a música de Arnaldo Antunes,
Se dão conta da imensa distância onde foram parar.
Às vezes... longe de si.
Às vezes... longe de outras pessoas que elas amaram ou que ainda amam.
 
 
                                                                vídeo 4 (ver referencias)
 
Para o teólogo e pedagogo Clóvis Pinto de Castro:
"...A morte é nossa sábia CONSELHEIRA. (...) Jesus nos deixa a maior de todas as lições: para viver é necessário morrer. A morte nos fala sobre aquilo que estamos fazendo com a nossa própria vida – as perdas, 'os sonhos que não sonhamos, os riscos que não corremos (por medo), os suicídios lentos que perpetramos' (Rubem Alves) – no nosso cotidiano. A morte aponta par a nossa finitude: mostra-nos que somos humanos, frágeis e precisamos aprender a viver. [A vida] ela constitui-se o maior de todos os mistérios. (...) É bom lembrarmos que, quanto mais poderosos formos perante ela, a morte, mais tolos nos tornamos na arte de viver'. Rubem Alves nos convida a 'ver a morte como companheira silenciosa, conselheira sábia, que fala com voz branda, sem querer nos atemorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver.' No silêncio, na contemplação, podemos descobrir a morte como conselheira, e não como adversária."
 
 
"Metamorfoses da identidade."
 (Roldão e Bulgacov, 2006)
Morremos um pouco a cada dia.
Mudamos todos os dias para poder sobreviver e VIVER.
Viver é morrer. É ir embora.
É deixar ir. Renovar-se.
 
 
Há um texto que é atribuído a Fernando Pessoa. (Não sei se é dele, mas é um texto bonito)
"Viva a morte de cada dia" :
"Nós estamos acostumados a ligar a palavra morte
apenas à ausência de vida e isso é um erro.
Existem outros tipos de morte e nós precisamos morrer todo dia.

A morte nada mais é do que uma passagem, uma transformação.
Não existe planta sem a morte da semente,
não existe embrião sem a morte do óvulo e do esperma,
não existe borboleta sem a morte da lagarta, isso é óbvio!

A morte nada mais é do que o ponto de partida para o início de algo novo.
É a fronteira entre o passado e o futuro.

Se você quer ser um bom universitário,
mate dentro de você o secundarista aéreo
que acha que ainda tem muito tempo pela frente.

 

Quer ser um bom profissional?
Então mate dentro de você o universitário descomprometido
que acha que a vida se resume a estudar só o suficiente para fazer as provas.

Quer ter um bom relacionamento?
Então mate dentro de você o jovem inseguro ou ciumento
ou o solteiro solto que pensa poder fazer planos sozinhos,
sem ter que dividir espaços, projetos e tempo com mais ninguém.

Enfim, todo processo de evolução
exige que matemos o nosso "eu" passado, inferior.
E, qual o risco de não agirmos assim?
O risco está em tentarmos ser duas pessoas ao mesmo tempo,
perdendo o nosso foco,
comprometendo nossa produtividade e,
por fim, prejudicando nosso sucesso.

Muitas pessoas não evoluem porque ficam se agarrando ao que eram,
não se projetam para o que serão ou desejam ser.
Elas querem a nova etapa,
sem abrir mão da forma como pensavam ou como agiam.
Acabam se transformando em projetos inacabados,
híbridos, adultos "infantilizados".

Podemos até agir, às vezes, como meninos,
de tal forma que não matemos virtudes de criança
que também são necessárias a nós, adultos, como:
brincadeira, sorriso fácil, vitalidade, criatividade, etc...

Mas, se quisermos ser adultos,
devemos necessariamente matar pensamentos infantis,
para passarmos a pensar como adultos.

Quer ser alguém
(líder, profissional, pai ou mãe, cidadão ou cidadã, amigo ou amiga)
melhor e mais evoluído?
Então, o que você precisa matar em si ainda hoje
para que nasça o ser que você tanto deseja ser?
Pense nisso e morra!
Mas, não esqueça de renascer melhor ainda!”


O passado não volta mais
O futuro é um mistério
O presente, é um PRESENTE, é a vida que se tem.

Na Bíblia, no Salmo 90 lemos:
"Senhor Tu tens sido o nosso refúgio (v.1)
Faze com que saibamos como são poucos os dias de nossa vida para que tenhamos
um coração sábio (v.12).
Dá-nos agora muita felicidade assim como nos deste muita tristeza no passado,
naqueles anos em tivemos aflições. (v.15)
(...) E que os nossos descendentes vejam o teu glorioso poder (v.16)"
(Bíblia on-line Nova Tradução na Linguagem de Hoje)
 
 
Carl Gustav Jung
 
Carl Gustav Jung foi tema de um estudo sobre a idade adulta.
Estudei esse livro escrito por Staude aos 29 anos, por conta da mais profunda crise pessoal
que já vivenciei ... e que pensei que igual a ela nunca iria mais passar outra.
Hoje já não me sinto mais tão segura disto.
 
Na obra "O desenvolvimento adulto de C. G. Jung", Staude cita o próprio Jung:
"Todo indivíduo precisa de revolução, de divisão interior, de subversão da ordem existente e RENOVAÇÃO, mas sem impo-las aos outros, sob o pretexto hipócrita do amor cristão, de senso de responsabilidade social ou de qualquer um dos mais belos eufemismos que caracterizam os desejos inconscientes de poder pessoal. Autoreflexão individual (...), o regresso do indívíduo ao seu ser mais profundo, (...) o interesse pela psique humana é um sintoma desse regresso instintivo ao si mesmo." (Jung apud Staude,1995, p.16)

"Quais foram os problemas que Jung enfrentou quando se aproximou da meia idade, e como ele os resolveu? Ele tinha de passar pela dolorosa dissolução de sua velha estrutura de vida e experimentar seus sentimentos de culpa, perda, solidão, isolamento e até mesmo fracasso. Tinha de enfrentar a dolorosa realidade do seu processo de envelhecimento e a inevitabilidade de sua morte. (...) A partir de sua própria experiência, Jung concluiu que a tarefa da segunda metade da vida era o desenvolvimento do Self, trazendo a ele maior unidade harmonia e fundamento do que se poderia atingir só por meio do desenvolvimento do ego."
(Jung apud Staude,1995, p.72, 73)
 
Nesse período de crise, "Jung achou que ' na medida em que conseguiu traduzir as emoções em imagens – isto é, achar as imagens ocultas nas emoções – tornou-se interiormente tranquilo e ganhou novas forças. Ele sentiu que se não tivesse decifrado seus segredos talvez pudesse ter sido esmagado por eles. Ele descobriu que o inconsciente tende a expressar-se numa linguagem  estravagante(...) até mesmo de uma forma bombástica. ( Jung apud Staude,1995, p.80). "Quando emergiu da crise da meia idade, Jung encontrou consolo, e a integração psíquica chegou-lhe através da pintura, da escultura e da navegação. Ele sentiu que estas atividades físcas e artísticas lhe davam equilíbrio...(p.87). A partir desta perspectiva mais profunda do Self, a razão parecia um valor menos importante para Jung. Ele começou a valorizar mais a experiência religiosa e mística do que a compreensão racional.(p.92)
 
"Os anos durante os quais busquei minhas imagens interiores foram os mais importantes da minha vida – neles tudo o que era essencial foi decidido. Levei praticamente quarenta e cinco anos para destilar, no recipiente do meu trabalho científico, o que vivi e escrevi até essa época."
(Jung apud Staude,1995, p. 71)
 
"Embora o padrão geral da crise da meia idade seja comum, as respostas a ela diferem. A antiga caracterização chinesa para 'crise' também quer dizer 'oportunidade'. A partir do exemplo da experiência de vida de Jung, podemos ver que esse período é uma época de grandes oportunidades para o DESENVOLVIMENTO do Self; é também um período cheio de perigo. Só uma pessoa muito forte poderia ter sobrevivido ao distúrbio psíquico que Jung experimentou na meia idade. Sabemos de outros, (...) que foram incapazes e ficaram loucos." (p.94)
 
Outros, vários deles pensadores e escritores, tal qual Jung passaram pela crise e foram por ela fertilizados em sua própria criatividade, escrevendo depois dela com muito maior profundidade. Houve um grande impacto positivo criativo dessa vivência de vida em seus trabalhos posteriores derivados de uma compreensão maior da crise advinda na meia idade. Segundo Staude (op. cit. p.102), "Ao contrário de Freud e seus seguidores, que viam a religião como uma neurose infantil, (...) Jung considerava que o desenvolvimento psicológico estava muito próximo do desenvolvimento moral e espiritual. Jung descobriu que para a maior parte de seus pacientes, a cura e a globalidade eram geralmente acompanhadas por experiências religiosas de uma espécie ou de outra. Na sua opinião, a religião era importante para o desenvolvimento adulto porque afetava a pessoa como um todo onde os processos essenciais de desenvolvimento ocorriam no inconsciente. (...) ". Lembra Staude, que Ele acreditava que "na última fase da vida os valores espirituais e culturais se tornam incrivelmente mais importantes. (...) Um objetivo espiritual que transcende o homem puramente natural e sua existência mundana constitui uma necessidade essencial para a saúde da alma. (op. cit.p.119).
Para Jung, a tarefa da idade adulta é a INDIVIDUAÇÂO, e uma das possibilidades deste processo é a de gerar uma potente criatividade e integridade pessoal, e na realização desta tarefa na meia idade, a importância da espiritualidade tem o seu valor garantido na ótica Junguiana. Com ele aprendemos, nos esperançamos e inspiramos, através do fato de saber que pode ser difícil essa passagem do meio da vida, mas ela é possível, tanto quanto, necessária para o amadurecimento, a fim de nos tornarmos realmente, ADULTOS.
 
vídeo 5 (ver referências)
Flávia Diniz Roldão
Psicóloga, Pedagoga e Teóloga.
Psicoterapeuta individual, de casais e familias.
Trabalha com Arteterapia e desenvolvimento humano





REFERÊNCIAS:
Bíblia On Line, Nova tradução na Linguagem de Hoje. Disponível em: http://biblia.com.br/nova-traducao-linguagem-hoje/ acesso em 05/05/13
BULGACOV Y. L.M.  e ROLDÃO, F. D. Metamorfoses da identidade: manifestações culturais e artísticas. In; CAMARGO, D. e BULGACOV, Y. L. M., Identidade e emoção. Curitiba: Travessa dos editores, 2006.
CASTRO, Clóvis P. Transformados pela palavra de Deus. São Paulo: W4 Comunicação e editora, 2005.
HOLLIS, James. O Projeto Éden: a busca do outro mágico. São paulo: Paulus, 2002.
PESSOA, Fernando. Viva a morte de cada dia. disponível em: http://mais.uol.com.br/view/e8h4xmy8lnu8/viva-a-morte-de-cada-dia-0402193360D4C133A6 
STAUDE, John-Raphael. O desenvolvimento adulto de C. G. Jung. 9 ed. São Paulo: Cultrix, 1995.
Fonte das demais imagens: Google