Aprender a ser, também se aprende ?
A ser o que ?
A ser humano...
A ser gente !
Não viemos ao mundo com manual de instruções.
Nem sempre somos pessoas fácies de sermos acessadas.
Mas o debruçar-se de um outro semelhante, empático, que nos vê,
sempre consegue acessar o mais profundo do nosso ser.
Dizem que o que o ser humano mais deseja é ser desejado.
Penso que o que o ser humano mais deseja é ser visto, como
verdadeiramente ele é, sem as distorções dos espelhos projetivos.
Ser visto na sua alteridade.
Quando o encontro do EU e TU à moda Buber ocorrem, feridas podem
ser curadas, pois o bálsamo DO Encontro é a aceitação do que é visto, e
o derramamento de um remédio sarador sobre o ferimento sem raspar-lhe.
De que é feita a vida?
De muitas coisas, e dentre elas, dos Encontros.
Quando há encontros, há um verdadeiro importar-se, preocupar-se com
o o outro.
Nas palavras do professor de Artes do Filme: “Importar-se, tem o
poder de curar as feridas, Um bálsamo para a dor. A criança se
sente querida. Um abraço, um beijo, um afeto aqui e ali. Filho, eu
te amo. Se você tem medos, venha aqui. Se você cair, falhar,
estarei ao seu lado. Segurança. Carinho.” - “Isso é
importar-se, não é ?” - pergunta. E relata em contraposição:
“Nas Ilhas Salomão, quando os nativos querem parte da floresta
para agricultura eles não cortam as árvores. Eles simplesmente se
juntam ao redor delas e gritam xingamentos, e dizem coisas ruins. Em
alguns dias as árvores secam e morrem. Elas morrem sozinhas.”
No filme “Como estrelas na terra”, muitas cenas são emocionantes,
contudo... a cena em que o professor de artes vai à casa da família
do aluno Ishaan, que está tendo dificuldades na escola, percebe o
isolamento no qual ele foi colocado, e ao perceber a insensibilidade
da família para compreender o real problema, antes de falar pede se
pode tomar um copo de água. A cena é comovente!
Muitas vezes, diante das atrocidades da vida, o profissional precisa
mesmo parar e... “tomar um copo de água” para recompor-se diante
da situação que presencia. E não é só no que toca ao outro que
as vezes é preciso parar e pedir água para se recompor.
Eu me pergunto, se muitas vezes quando olhamos bem fundo para nós
mesmos, também não temos vontade de pedir ao tempo que pare, para
que possamos tomar um copo de água antes prosseguirmos em nossa
jornada .
“Por favor, posso tomar uma água?” - um tempo para recompor-se e
aliviar o fardo daquilo que o mergulho NO PROBLEMA, seja ele externo
ou interno, revela.
No filme, o professor se recompôs, e depois foi em frente com o que
precisava ser atendido.
O filme coloca uma profunda lição de vida. É sem a menor dúvida, um
dos melhores que já assisti.
Lembrei de um trecho de Rubem Alves ao refletir sobre a película:
“É isto que amamos no outro,
o lugar vazio que eles abrem para que
ali cresçam nossas fantasias.
Buscamos no outro,
não a sabedoria do
conselho,
mas o silêncio da escuta;
não a solidez do músculo,
mas
o colo que acolhe...
Como seria bom se as pessoas fossem vazias como o céu,
e não tão
cheias de palavras,
de ordens,
de certezas.
Só podemos amar as
pessoas que parecem com o céu,
onde podemos fazer voar nossas
fantasias como se fossem pipas.”
(Rubem Alves)
Assista ao filme completo:
Referências:
ALVES, rubem. O vazio que amamos. Disponível em: http://passarinhosnotelhado.blogspot.com.br/2012/07/o-vazio-que-amamos.html Acesso em 18 de amio de 2013.