sábado, 30 de agosto de 2014

Nem sempre vai ser assim



Hoje foi um dia de trabalho intenso. Depois do trabalho, o merecido descanso. Um passeio pela livraria, e agora o momento da escrita. Escrever também me descansa. Escrever me deixa mais leve,. Porque as vezes as palavras que estão dentro de mim são como um filho que pede para ser parido.

Aprendi muito com alunos e pessoas participantes de uma roda de conversa em uma supervisão de estágios em Psicologia Comunitária hoje, e escrevo este texto como um 'aprendizado" que deixo aos meus filhos.
O aluno que dirigiu a roda narrou a seguinte história, que lhe foi contada anos atrás por um amigo:

"Em uma propriedade rural, uma família muito bem sucedida em suas plantações e comercializações, foi de repente surpreendida por um furacão que passou e devastou a plantação sobre a qual eles se implicaram dias, desde a escolha das sementes, e depois o plantio, e na qual  se detiveram gastando um bom tempo cuidando.

Empobrecidos, o pai diante do filho olha para ele e diz:"Meu filho, nem sempre vai ser assim! Sigamos..."

Tudo passou e quando veio o tempo certo, novamente eles começaram todo o trabalho de escolha das sementes, o preparo da terra, a semeadura e todo o cuidado da plantação.

Desta vez tudo ajudou, e eles tiveram uma enorme fartura na colheita.

Pai e filho estavam juntos conversando novamente, e celebrando aquela grande benção. O pai olha para o filho profundamente e lhe diz: "Meu filho, preciso lhe dizer uma coisa, é importante que você aprenda e saiba: - Nem sempre vai ser assim!"

Uma mulher já idosa, certa vez se expressou: "-Minha mãe sempre dizia: minha filha, todo mal tem um início, e também tem um fim".

Dá esperança lembrar destas duas histórias.
Faz refletir que na vida há coisas sobre as quais não temos controle, e nos afetam, há outras porém, sobre as quais temos algum controle e podemos/precisamos agir.



É bom saber, que histórias são palavras (metáforas) que podem iluminar a forma de viver.

Certa vez eu comentava com uma pessoa: "Quando a vida não nos dá o privilégio de trazermos de berço os recursos que necessitamos para construir a vida que queremos, é preciso empenhar-mo-nos em consegui-los ou construí-los. Quando não obtemos na infância os recursos necessários que precisamos para realizarmos com alguma lucidez as escolhas necessárias de serem feitas durante a vida para que alcancemos minimamente uma vida que valha a pena ser vivida, é preciso correr atrás deles, afinal, como dizia Freire citado por Guzzo (2005), "há uma vocação ontológica para o Homem, enquanto sujeito que opera e transforma o mundo".

E o primeiro mundo sobre o qual cada pessoa pode começar a operar para transformar, é o seu próprio.

Nós mesmos, somos um dos instrumentos disponíveis para a transformação que desejamos no nosso mundo.

Escreveu Eliane Brum: "Nossa vida é a nossa primeira ficção". Eu diria: nossa vida é a nossa primeira Obra CONCRETA.



"Nem sempre vai ser assim."
Mas ninguém sabe, como o futuro será.
O que é certo, é que como disse alguém um dia: "todo mal tem um início, e também tem um fim".
Mas se o que é mal passa. O que é bom também. Ninguém consegue prender o tempo. O que ficam são as memórias. E como disse Brum (2014) referindo-se às sua: "Esta é minha memória. Dela eu sou aquela que nasce, mas também sou a parteira."
Não somos fantoches ou múmias atadas. Somos seres humanos dotados de capacidade (ao menos algumas) de ação e intervenção sobre a vida, a nossa e as dos outros, desde as memórias que construímos, alimentamos e como as narramos, até as ações que fazemos ou deixamos de realizar.
Simone de Beauvoir foi citada por Frain (2013): "O mundo real é uma verdadeira bagunça. É minha vida, e a vivi como quis vivê-la..."

O tempo passa... não pede licença... mas cada pessoa pode escolher (ao menos em certa medida), como vai diante da vida se posicionar.



O futuro, está ligado ao presente 
de muitas e diferentes formas.
"Nem sempre vai ser assim!"




REFERÊNCIAS:
BRUM, Eliane. Meus desacontecimentos. SP: Leya, 2014.
GUZZO, Raquel S. L. Escola amordaçada: compromisso do psicólogo com este contexto. In: MARTINEZ, A.M. Psicologia Escolar e Compromisso Social: novos discursos, novas práticas. Campinas, SP: Alínea, 2005.

Imagens coletadas na internet, disponíveis em:
http://questaodecoaching.com.br/tag/mudanca/
http://www.ideiademarketing.com.br/2012/11/01/medo-das-mudancas-os-desafios-do-endomarketing/
http://mdemulher.abril.com.br/casa/reportagem/reforma-construcao/saiba-como-fazer-mudanca-transtorno-613377.shtml
http://despertandodeuses.blogspot.com.br/2012/09/como-remover-o-medo-da-mudanca-pessoal.html


Flávia Diniz Roldão
Psicóloga
flaviaroldao@gmail.com 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

VOCÊ TEM PEDRAS OU PORTAS NO SEU CAMINHO ? O rio das perdas.



Hoje pela manhã li um texto de Lya Luft sobre um grupo de psicólogos que trabalha num grande hospital e lhe solicitou uma palestra sobre perdas: O rio das perdas.

Um hospital é um local para pessoas que estão cuidando de alguma doença. Local onde se busca cuidar ou trazer de volta a VIDA.

Mais do que o texto em si, o título ficou ressoando em minha cabeça: “O rio das perdas”. E um trocadilho com a palavra perdas, ressoava também: pedras...pedras e perdas, perdas e pedras.

Lembrei do poema sobre a pedra no caminho de Drumond: “no meio do caminho havia uma pedra. Havia uma pedra no meio do caminho da VIDA”. Passei um tempo refletindo sobre perdas e pedras. E me lembrei da paráfrase de Castro: “Uma porta no meio do caminho”: no meio do caminho tinha uma porta... e o trecho onde ele cita Içami Tiba: “Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens. (…) Mas a vida também pode ser dura e severa. Se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela frente. É a repetição perante a criação, é a monotonia monocromática perante a multiplicidade das cores, é a estagnação da vida."
Passagens, rios... lembram correntezas. Pedras que são levadas pelas correntezas das águas.

Na vida, enquanto vamos vivendo ocorrem muitos fatos que empedram as emoções. Essas pedras, obstruem a livre circulação e a passagem da VIDA, o sangue que circula pelo corpo e o mantém VIVO. Tal qual no sistema circulatório, onde pode ocorrer obstruções que podem levar a um infarto do coração, na vida essas pedras emocionais que obstruem o caminho, podem levar a diferentes infartos: o infarto das relações, o infarto da família, o infarto da vida profissional, o infarto da felicidade, etc.

Mas ao invés de pedras no caminho da vida, podemos buscar encontrar, enxergar e abrir as “portas no caminho”. Amigos, novos relacionamentos, novos projetos de vida, recomeços e partidas podem ser “portas no caminho”. Precisamos abrir portas no caminho da vida, quando as pedras no caminho estão obstruindo passagens. Uma porta é apenas uma porta. Para você entrar, você precisa encontrá-la e abrí-la. Ela poderá ser encontrada e se manter fechada, até que alguém resolva abrí-la e entrar por ela. Podemos substituir as pedras no caminho por portas no caminho? Escutei uma frase dias atrás que me chamou muito a atenção: “Há pessoas que ficam lambendo as próprias feridas”. Sentem prazer em ficar ali se lambendo e não vão em busca de cura.

Fortes correntezas de águas podem lavar e levar as pedras do caminho. A água é símbolo de lavagem, limpeza, purificação. Na vida, há momentos em que as situações se estabelecem como verdadeiras fortes correntezas. Correntezas que levam... correntezas que limpam... correntezas que desobstruem as pedras do caminhos e limpam a área para que as águas voltem a correr desimpedidas. São águas purificadoras.

E pensando em águas purificadoras me vem à mente a imagem do choro que limpa a alma. Dizem que o remédio do luto é choro. O choro que lava a alma. E depois dele, quando ele seca, a alma sente-se lavada e a dor da perda se vai. Rio de perdas que passa pela vida.

Na Bíblia há um texto de esperança: “Os que com lágrimas SEMEIAM, com júbilo ceifarão”. Tem choros que são necessários. Como escreveu Judith Viorst: Há perdas que são necessárias, “Perdas Necessárias”. A perda da infância por exemplo, ou... a perda de vícios, ou a perda de PESOS: são perdas necessárias. Para crescer é necessário perder... deixar ir certas coisas, comportamentos e sentimentos. Mudar!

Quero trocar perdas e pedras por portas no caminho a partir de hoje. Abrir portas e entrar por elas. Portas... portais... que me levem renovadamente de volta para o fluir da VIDA.

Castro lembrou em seu artigo intitulado “Uma porta no caminho” que “há um milagre narrado no Evangelho de Marcos, capítulo 7, que apresenta Jesus curando um surdo-mudo: 'Depois de levá-lo à parte, longe da multidão, Jesus colocou os dedos nos ouvidos dele. Em seguida, cuspiu e tocou na língua do homem. Então voltou os olhos para o céu e, com um profundo suspiro, disse-lhe: ‘Efatá!’, que significa "abra-se!'. Com isso, os ouvidos do homem se abriram, sua língua ficou livre e ele começou a falar corretamente”. ‘Efatá’ é uma palavra do aramaico, língua falada por Jesus, e próxima do hebraico. Esta expressão faz parte do mesmo grupo de palavras ligadas ao sentido de abertura. Jesus não se limitou à cura de uma deficiência física. Ao dizer ‘Efatá’, ele apontou para algo além da abertura da boca e dos ouvidos. Abriu uma porta e deu àquele homem a possibilidade de uma nova vida.”

E por falar em homens, essa semana estava lendo o livro “A grande aventura masculina”. Nesta obra, o autor apresenta sua tese de que “tornar-se homem é a grande e mais perigosa incumbência da vida de um homem.” E lembra a importância fundamental de um pai na vida de um menino: um homem se torna homem na convivência com outros homens. Ele defende que a maior herança que um pai pode deixar para seu filho é a sua demonstração de masculinidade. Contudo, adverte ele: nosso tempo parece ser um tempo sem pai, um tempo de meninos órfãos de pais. E o grande numero de lares constituídos por mulheres como as responsáveis pela criação de filhos em nosso país leva-nos a concordar com a ideia do autor. E para ele, temos hoje muitos homens inacabados, meninos vivendo em corpo de homem, mas que não foram iniciados no caminho de aprenderem a tornarem-se homens, pois para ele a iniciação masculina é uma “JORNADA”, uma série de muitas experiências entrelaçadas que servem de guia, iniciação para que meninos tornem-se homens, passando e crescendo pelos vários ESTÁGIOS da vida, desde a infância até a velhice, desde saberem na meninice que são filhos amados, até chegarem a serem SÁBIOS na velhice. Afinal, qual é a tarefa e a contribuição de um idoso, senão a sua SABEDORIA, depois de ter vivido intensamente as diferentes etapas de sua vida? Diz o autor: “o resultado de termos abandonado a iniciação masculina é um mundo de homens inacabados, e não iniciados”.

Mas na imperfeição característica da vida humana, podemos pensar também sobre as mulheres . É preciso pensar no processo pelo qual uma mulher aprende a verdadeiramente tornar-se mulher: o processo da iniciação feminina? O assunto me lembra o livro “Mulheres que correm com lobos”. Nele CLARISSA PINKOLA ESTES, tal qual JOHN ELDREGE em seu livro “A grande aventura masculina”, abordam respectivamente, ela sobre o resgate do ser mulher e ele, sobre a iniciação masculina dos homens, contando e relembrando histórias. Ela, relembra histórias seculares, ele, faz o mesmo relembrando histórias contidas na Bíblia e contando as suas próprias histórias de vida.

Lembro-me de uma pergunta de Aquarela no poema “Aprendendo a ser feliz”: “Vida! Que vida é esta que não ensinou a maioria a viver?” É preciso então aprender... se queremos não apenas sobreviver... mas... VIVER! Precisamos reconhecer que somos aprendizes, e adotarmos uma postura de seres ensináveis diante da vida. Aprendentes que deixam as correntezas levarem as pedras das experiências e emoções embrutecidas. Aprendentes que abrem novas portas e criam coragem suficiente para entrar por elas. Aprendentes da VIDA que deseja ser vivida e não apenas sermos sobreviventes, pois viver, é muito … mas muito mais do que apenas SOBREVIVER.

E assim vamos seguindo a vida … “numa passarela de uma Aquarela, que um dia enfim... des-co-lo-ri-rá.” (Toquinho).

                                            A alegria e a dor são como um tecido espesso,

uma veste para a alma.

Sob cada angústia e sofrimento

perpassa a alegria, como fios de seda.

Está certo que seja assim,

O homem foi feito para a alegria e para a dor,

e quando nos convencermos bem disso,

caminharemos mundo a fora.

(Rubens Correa)
referências:
CASTRO, C. P. Uma porta no meio do caminho.
ELDREDGE, J. A grande aventura masculina.
ESTÉS, C. S. Mulheres que com lobos.
Bíblia.
Fonte de imagem:

quarta-feira, 4 de junho de 2014

APRENDENDO A SER LEVE no contexto da família

 

(Texto construído a partir de uma interpretação livre 
 da mensagem compartilhada pelo Rev. Edison Primo
na III IPI de Curitiba em 31 de maio de 2014)


"Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.
Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".
                                                          Mateus 11:28-30 (NVI)


Vocês estão cansados, enfastiados de religião?
                                                                    Venham a mim! 
Andem comigo e irão recuperar a vida. 
Vou ensiná-los a ter descanso verdadeiro. 
Caminhem e trabalhem comigo! 
Observem como eu faço! 
Aprendam os ritmos livres da graça! 
Não vou impor a vocês nada que seja muito pesado ou complicado demais. 
Sejam meus companheiros e aprenderão a viver com liberdade e leveza”.
(Mateus 11:28-30 - Bíblia A Mensagem)

 

Leve, significa de pouco peso, fácil de mover ou movimentar-se, termo contrário a pesado, antonimo de sobrecarga.

Jesus nesta passagem bíblica
(que aborda a questão da espiritualidade e não da religião pregada pelos fariseus de sua época) 
está perguntando aos seus ouvintes:
Vocês querem ser leves? Estão cansados? Sentem-se sobrecarregados?

Caso a resposta seja afirmativa, dá-lhes uma direção:
“Sejam meus companheiros e aprenderão a viver com liberdade e leveza” (Mt. 11:.30).


Há pessoas e famílias sobrecarregadas com cargas pesadas demais nesta vida. Estão a evitar que o peso da vida, da matéria, as esmague. Buscam diferentes caminhos para o alívio desses fardos.  Por vezes já realizaram sua busca em muitos recursos e diferentes espaços sociais que a vida oferece, na tentativa de encontrar caminhos na lida com os problemas cotidianos. A espiritualidade oferece saídas que são de uma outra lógica diferente da lógica material. Envolve o exercício da fé. É uma outra forma de conhecimento e intervenção na vida. Dentro desta lógica espiritual, Jesus oferece o caminho: “Venham a mim”. “Caminhem comigo”. Esse convite dá uma ideia de leveza que é criada... na caminhada.

Ser família é relacionar-se (exercitar-se? aperfeiçoar-se? mover-se?).
E uma relação entre dois ou mais seres humanos complexos é sempre uma empreitada pelos meandros da complexidade, um desafio! Mas não um desafio impossível, e pode ser um desafio passível de êxito, segundo as orientações do Cristo: “Eu vou ajudar vocês. Vou tornar leve o fardo e o jugo que carregam”. Jesus promete ser PRESENÇA atenciosa e ativa.

Para Primo, na prática ocorrem 3 mudanças no contexto da família quando seus membros trocam o jugo pesado que carregam pelo jugo de Jesus:
 
       1.  As pessoas passam a valorizar mais as RELAÇÕES com PESSOAS do que as coisas (coisas   de todos os tipos!).

       2.  As pessoas obtém conforto, segurança e tranquilidade, mesmo nos momentos difíceis, pois podem ter a confiança de que não estão sozinhas – Jesus (o seu mestre) está com eles. É sua fonte de resiliência – O TOTALMENTE OUTRO (Deus) é o outro significativo com quem eles podem contar.

       3.  Dentro do lar, as pessoas passam a manifestar Deus em SENTIMENTOS e ATITUDES (por exemplo, perdoando – que é um comportamento muito diferente da lei do “olho por olho e dente por dente").
 
 
    O texto aborda o termo canga ou jugo. Segundo Primo, na canga ou jugo, seguem dois bois. O boi mais experiente vai direcionando o caminho do mais fraco e inexperiente. Simbolicamente este mais experiente é Jesus Cristo, aquele que guia e auxilia a levar o fardo da vida. Tal qual também nos lembra o poema "Pegadas na areia".
 


Nos dias atuais, a utilização de metáforas ligadas ao ambiente rural pode não ser algo tão comum, pois o contexto urbano no qual vivem a maioria das famílias atualmente, é um contexto diferente deste. Porém, muitas das parábolas contadas por Jesus e narradas na Biblia utilizam símbolos do contexto rural, que era o contexto da época em que elas foram formuladas e contadas.

Há um convite realizado por Jesus neste texto. Um convite, é apenas um convite. Quem o recebe pode ou não responder positivamente. Mas essa é uma possibilidade: responder afirmativamente ao convite à leveza. De onde ela vem? Das facilidades da vida? Não. Da segurança de que nas dificuldades da vida os membros da família não estão sozinhos; podem contar com o Cristo que os ajuda a seguir com leveza.
Se formos observar o contetxto atual, na prática, atualmente, leveza não é um termo muito associado ao Cristianismo. Tal qual os fariseus na época de Jesus enfatizavam a lei duramente, por vezes a religião cristã deixou a sua essência em segundo plano. Ela deu ênfase demasiada à dureza da lei e dos rituais religiosos, em detrimento da vivência das Boas Novidades da graça, trazida pelo Evangelho proclamado pelo Cristo. Mas este texto bíblico é claro, Jesus afirma: “Aprendam os ritmos livres da graça! Não vou impor a vocês nada que seja muito pesado ...”

É possível trocar um jugo pesado por outro mais leve. Trans-formar-se! A vida pode ser mais leve. A vida cristã pode ser leve. A vida em família pode ser leve. Isso é uma possibilidade aberta à todas as famílias. Não precisamos nos comportar como se fossemos imutáveis "cemitérios de automóveis enferrujados" (CALVINO, 1990).
 
O convite já foi feito. Porém, esse texto trata da questão da espiritualidade, esse é um assunto de fé, e pede uma resposta de fé. Uma resposta que só pode ser dada afirmativamente por alguém que crê na leveza como uma promessa, uma possibilidade, a partir do convite realizado e da direção dada pelo Cristo: “Venham a mim. Eu vou aliviar a carga de vocês.


REFERÊNCIAS
Mensagem transmitida por Edson Primo na III IPI de Curitiba, 31 de maio de 2014.
Bíblia NVI
Bíblia A Mensagem
CALVINO, Ítalo. Leveza. In: _____. Seis propostas para o próximo milênio. SP: Companhia das Letras,1990.

REFERÊNCIAS DAS IMAGENS:
1 http://br.freepik.com/vetores-gratis/familia-silhuetas-sombra-danca-preto-branco-inteligente-fundo-vetor-vida-livre_675612.htm
https://www.facebook.com/BrasilAline/photos/a.315223025223738.76294.268690599876981/684033338342703/?type=1&theater 
http://madujazz.wordpress.com/2010/11/28/vinde-a-mim/

 
Flávia Diniz Roldão
Teóloga. Psicóloga. Pedagoga.


domingo, 27 de abril de 2014

Intimidade é construção!

"O oposto de SOLIDÃO não é estar juntos,
é INTIMIDADE".
(Richard Bach)



Tive a oportunidade de participar do workshop sobre "O casal e a intimidade: o fortalecimento das conexões através da vulnerabilidade" com David Van Dyke neste final de semana (Faculdade Teológica Sul Americana).

Ele apresenta a ideia  de que INTIMIDADE é um processo recursivo, uma via de mão dupla, a possibilidade de "dar e receber" revelação. A revelação mais profunda do seu ser - de quem você realmente é. "É a revelação dos aspectos principais do EU na presença do parceiro. Um ato de amor e de VALIDAÇÃO". Ela é base, dos casais de longa duração.

Ele apresenta alguns problemas para o estabelecimento de relações de intimidade: "1-A tendência de escapar de você mesmo; 2- A tendência de se definir através do outro; 3- A tendência de sentir-se satisfeito em uma relação em função do que O OUTRO faz ou não faz..." (grifo meu).

Destaca a importância da intencionalidade à vulnerabilidade, no sentido de colocar-se em abertura ao companheiro, ESTAR PRESENTE!!! E diz: "A vulnerabilidade não traz segurança, e nem é um estado natural, mas é necessária para a INTIMIDADE." Afirma: "Casais com alta satisfação, sentem-se conectados." E convida os casais à reflexão: "COMO ESTAMOS NOS CONECTANDO UM AO OUTRO?" Alerta: "SOMOS CO-CRIADORES DO NOSSO RELACIONAMENTO".

Destaca no processo de desenvolvimento da intimidade o papel central da INTENSIONALIDADE. ("Você é o que você faz."). Nós (enquanto casal) somos aquilo que fazemos de nós mesmos. Temos a relação que construímos com nossa intencionalidade.

Ele destaca o papel fundamental de sermos intencionais e não reativos, bem como, o papel fundamental da nutrição do amor, apresentando a metáfora do jardineiro: "Regue as sementes do amor."

Compreende o convite para a interação como uma proposta ou oferta por atenção, um ato de "ir ao encontro". E cita Henri Nouwen:

"Se o medo é o maior inimigo da intimidade, o amor é o seu verdadeiro amigo."

Referência:
Módulo Internacional "O casal e a Intimidade: o fortalecimento das conexões através da vulnerabilidade, com David Van Dyke, Faculdade Teológica Sul Americana & Wheaton College Graduate School.

Fonte da imagem: facebook.

Psicóloga, Pedagoga e Teóloga.
Psicoterapeuta individual, de casais e familias.
Trabalha com Arteterapia e desenvolvimento humano.
Contato:
 
flaviaroldao@gmail.com

domingo, 30 de março de 2014

Você tem se lembrado de reciclar o seu lixo relacional ?



Dias atrás li um artigo bem interessante de Suely Engelhard: "Medidas para a reciclagem do Lixo Familiar".
Neste texto a autora trás o conceito de lixo relacional.
Escreve: "Nas interações afetivas a energia investida resulta em vivências que nutrem a relação eu-outro ou em toxinas relacionais que precisam encontrar um espaço de reciclagem."
Dessa leitura retirei algumas indagações que podem ser úteis de serem realizadas de tempos em tempos, visando uma reciclagem do lixo relacional:

Como andam as suas trocas afetivas e relacionais?
Que relações precisam ser recicladas?
Quais interações negativas realizadas nos últimos dias podem ter gerado uma carga tóxica sobre a sua vida e precisam ser recicladas?
Em quais zonas da vida o lixo ficou depositado?
Como você pretende fazer a reciclagem deste lixo transformando-o em um NOVO produto?

Não somos passivos na vida, mas sim, agentes ativos e participativos na construção de nossa existência, nossas relações com o mundo, nossas experiências familiares e nossa qualidade de vida.
Quando acumulamos toxina precisamos fazer uma limpeza, a fim de podermos funcionar saudavelmente na vida e nas relações. Sempre é possível fazer algo a respeito.
Nossa vida não está terminada, nem pronta, nem precisa ficar estagnada.
Criamos a cada dia nossa vida pessoal, nossa vida familiar, nossa vida profissional. Cada uma destas dimensões da vida está em constante processo de movimento e mudança, e nós integramos e proporcionamos estes processos quando estamos implicados em melhorar nossa qualidade de vida.

Por vezes as pessoas e as famílias precisam reciclar o que até então era dejeto. Conforme Engelhard, "nos núcleos familiares vivemos as mais diferentes possibilidades interacionais. Loucos e sábios são criados dentro desses sistemas vivenciais". E na reciclagem deles somos participantes ativos, formadores de uma "eco-consciência familiar". A mudança não acontece ao acaso, é preciso ter coragem e disposição para trabalhar nela.

Somos imperfeitos, e mesmo na família onde na maioria das vezes podemos ter a intenção de acertar, nem sempre acertamos aos nos relacionarmos uns com os outros. Se assim não fosse, seríamos perfeitos, mas estamos longe disso.

Engelhard, em seu texto alerta: "Toda família tem seus esqueletos guardados em seus armários." E cita uma frase de George Bernard Shaw, escritor irlandês (1856-1950): "Se você não pode se livrar do esqueleto em seu armário, é melhor você ensinar ele a dançar."

A reciclagem do lixo relacional pode ser uma estratégia de gerar uma melhor qualidade de vida.
Você tem se lembrado de reciclar o seu lixo relacional?



REFERÊNCIAS:

ENGELHARD, S. Medidas para a Reciclagem do Lixo Familiar. In: Revista Brasileira de Terapia de Família 4 (1), JULHO, 2012.

Imagem 1 disponível em https://www.google.com.br/search?q=lixo&es_sm=122&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=WGGeU5nWNojLsQS8_4HgDg&ved=0CB0QsAQ&biw=1242&bih=534#facrc=_&imgdii=_&imgrc=8j0mVhXlJP3kcM%253A%3BwAEY7TzcUAy1PM%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.agracadaquimica.com.br%252Fimagens%252Fartigos%252Fclip_image001_0002.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.agracadaquimica.com.br%252Findex.php%253Facao%253Dquimica%252Fms2%2526i%253D5%2526id%253D125%3B483%3B336
Imagem 2 disponível em:  https://www.google.com.br/search?q=lixo&es_sm=122&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=WGGeU5nWNojLsQS8_4HgDg&ved=0CB0QsAQ&biw=1242&bih=534#facrc=_&imgdii=_&imgrc=Ce8rG9-CY6Wf0M%253A%3B0VeFfVwIbNdl9M%3Bhttp%253A%252F%252F2.bp.blogspot.com%252F-hLNgQU92Yuk%252FTrUd9kBMDyI%252FAAAAAAAACLo%252FOIIBMcnkYLo%252Fs1600%252FLixo%25252B1.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fjairclopes.blogspot.com%252F2011%252F11%252Flixo.html%3B1600%3B1423


Flávia Diniz Roldão
Psicóloga, Pedagoga e Teóloga.
Psicoterapeuta individual, de casais e familias.
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flaviaroldao@gmail.com

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O que fazer com as memórias na velhice?

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Inicio este texto explicando que não aprecio o termo velhice. Meus alunos de Psicologia da Terceira Idade o sabem bem. Velho é um adjetivo que empregamos a "coisas" muito usadas e que podem ser descartadas. A vida humana é preciosa demais pra ser descartada! Então não como um eufemismo, mas por convicção, melhor mesmo é usar o adjetivo idoso, para refererirmo-nos à PESSOA que teve ou tem o privilégio de chegar a ter muita idade.

Mas..., muita idade é sinônimo de muita experiência de vida?
Nem sempre! É sim, sinônimo de muitos dias já vividos.

Rubem Alves aos 80 anos, quando indagado acerca de quantos anos tinha, respondeu sabiamente como sempre: "quantos anos tenho eu não sei! Se você me perguntar quantos anos eu não tenho, isso sei dizer, - eu não tenho 80 anos, pois esses 80 que são anos que as pessoas dizem que eu tenho, são PRECISAMENTE os anos que eu não tenho, porque estes, EU JÁ VIVI! Esses PASSARAM..."

Esse final de férias, tive algumas conversas com pessoas idosas, e assisti a 2 filmes profundamente impactantes que me puseram em reflexão acerca da dificuldade das pessoas em lidarem com as suas memórias quando idosas. A idade em muitos casos trás um grande acúmulo de EXPERIÊNCIA, HISTÓRIAS, ... MEMÓRIAS! Histórias bem vividas, histórias mal vividas ou histórias que as pessoas deixaram de viver enquanto os anos passaram, tal como quem fica do lado de dentro da janela de uma casa, VENDO A VIDA PASSAR.

Alguns dizem: "A vida não é justa!" ou "A vida, VIDA MESMO, acontece só em casos raros." Ainda: "VIDA, que vida é esta que não ensinou a maioria a viver?!" Mas independente das reflexões das pessoas: sejam elas positivas ou negativas, a vida e o tempo, são implacáveis, eles seguem sempre em frente enquanto as pessoas... PENSAM! "Realidade mental, mundos possíveis" - escreveu Jerome Bruner. Ela passa. e o que fica no fim de tudo isso, são memórias dos tempos que não temos mais - como respondeu Rubem citado acima.

Philomena, a personagem de um dos filmes mencionado anteriormente, precisava "colocar em pratos limpos" a sua história. Precisava RE-passá-la a limpo, agora que estava na maioridade e tinha a possibilidade de fazer suas próprias escolhas e seguir o caminho que escolhesse para si, já que na juventude os pais e a igreja, DECIDIRAM SOBRE A SUA VIDA (ou vida - com "v" minúsculo). Obstinada e talvez movida por necessidade interna profunda, agora depois de idosa, FEZ O QUE ACHOU QUE DEVERIA FAZER, e buscou RE-FAZER a sua história. Mas o tempo é inclemente: ele passa, e mesmo na busca pelo que ficou perdido lá no passado, ela não conseguiu refaze-lo, pois o tempo... havia passado, e com o tempo, pessoas que um dia habitaram a caminhada da vida junto dela, já não mais existiam, morreram ou se distanciaram do caminho que trilhou. "O tempo não para" - já dizia a música interpretada por Cazuza. E a arte imita a vida, seja na música, no cinema, nas pinturas ou na poesia. Isso também cantou Lulu Santos: "Nada do que foi será do jeito que já foi um dia." Philomena me trouxe o profundo silêncio da reflexão interior.

 
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Lembrei de um texto bíblico que diz: "...ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos um coração sábio!" Pensei o quanto essa sabedoria do que vamos construindo ao longo do caminho pode ser refrigério no final da vida.
Citei o filme "Philomena" e quero abordar também outro profundamente impactante intitulado "Trem noturno para Lisboa".

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Este filme é ainda mais curioso que primeiro citado no que tange à temática aqui abordada: A DIFICULDADE QUE AS VEZES AS PESSOAS TEM EM LIDAR COM AS SUAS MEMÓRIAS QUANDO IDOSAS. Neste filme pelo menos quatro personagens idosos e uma jovem, me chamam a atenção com relação a este fato.
 
Nas entrelinhas a mensagem que eles passam é de que, DIGERIR memórias e acomodá-las na história da vida não é um processo nem um pouco fácil! Mas necessário para a serenidade e o bem estar. Conforme alerta Guedea e outros (2006, p. 302) "o bem estar subjetivo é um indicador importante do nível de adaptação na terceira idade, estágio do desenvolvimento que já corresponde na estrutura demográfica atual, a aproximadamente 25% da vida das pessoas." E eu, que me encontro na meia idade, digo para mim mesma: 25% da VIDA a ser vivida - NÃO É POUCA COISA!
 
Memória pesa???
 
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Ouvindo algumas pessoas idosas e assistindo não apenas a estes filmes, mas há vários outros que abordam este tema aqui discutido, tal como os filmes "Ao Entardecer", "O exótico hotel Marilgold", "Noites de tormenta", "De bem com a vida", entre outros, a resposta da vida e da arte parece ser: memórias podem pesar!
Como alertou o psicanalista Gilberto Safra em uma de suas palestras, nesta etapa da vida as pessoas costumam realizar uma contabilidade existencial, elas têm um encontro marcado com as questões significativas às quais foram “empurrando com a barriga”, mas que nesta etapa da vida, não há mais tempo para isso.
Por isso hoje me parece por bem, cuidarmos das memórias que estamos construindo. Da história vivida: que memórias irão ficar?

Daí me toca a sabedoria advinda do escrito bíblico: "Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos coração sábio" (Salmo 90:12), ou na tradução da bíblia "A Mensagem": "Oh! Ensina-nos a aproveitar a vida! Ensina-nos a viver BEM e SABIAMENTE!" - pedia Moisés a Deus em uma oração, que as vezes na minha interpretação teológica, vem aos ouvidos como um clamor absolutamente profundo como alguém cujo coração ARDE e suplica por sabedoria. Mas a própria bíblia orienta que quem tem sede de sabedoria pode pedi-la a Deus.

Algumas conversas que tive nestas férias foram profundas! A arte tem me ensinado muito também.
Não é preciso que passemos por todas as experiências na vida para que possamos aprender as coisas. Podemos aprender muitas coisas com a experiência vicária vivenciada através da experiência estética ao dialogarmos com a arte. É possível aprendermos muitas coisas também, conversando com as pessoas e vivendo ao lado delas na caminhada da vida. A VIDA partilhada durante a caminhada da vida é uma GRANDE MESTRA! Os ensinos deixados através de muitos anos registrados nos livros sagrados também ensinam O CAMINHO para uma vida sábia e de paz. Basta que tenhamos os olhos abertos para ver, ouvidos atentos para escutar, sensibilidade de alma para acolher. Por isso, eu realmente amo o trabalho que venho desenvolvendo há mais de 10 anos com idosos, bem como, a beleza da arte ao nos transmitir ensinamentos de modo absolutamente sensível, e amo muito também, a diretriz que se pode obter dos ensinos advindos dos textos sagrados deixados para iluminar o caminho dos seres humanos desde tanto tempo.

No filme "Álbum de família" assistido por mim estes dias, uma das personagens diz: "Graças a Deus que não podemos prever o futuro, senão, nem sairíamos da cama." O futuro é um tempo em aberto. Ninguém sabe se as escolhas que vão sendo realizadas ao longo da existência são as melhores escolhas. E mesmo que com a idade, vamos ficando mais maduros e esperamos que possamos realizar melhores e mais conscientes escolhas, mas ainda assim, nunca sabemos: o futuro é uma surpresa em aberto.

Para os que como eu, acreditam em Deus, pedir a Ele a direção é um refúgio para a aflição da alma, mas ainda assim, essa é uma das angústias humanas, e nós todos, somos apenas  e exatamente isso: seres humanos, e uma das angústias é: nunca sabemos completamente se estamos no melhor caminho para as nossas vidas, na direção certa. Apenas podemos submete-la a um pode superior (Deus), para que nos guie no caminho, e confiar. Neste sentido, já entramos no terreno da fé.

Certo é, que todos que tivermos o privilégio de chegar à "velhice" ou como eu gosto mais de dizer: "à sermos idosos" - teremos que CON-VIVER com as nossas MEMÓRIAS, as nossas pequenas histórias, que compõem o NOSSO ÁLBUM DA HISTÓRIA DE VIDA até morrermos. Mas é bem certo que para aqueles que têm fé, o futuro não é de abandono, mas de PRESENÇA de um Deus onipresente que não nos abandona na caminhada da vida, mas nos HABITA (mandando o maná, a metáfora da mula que fala, a metáfora do mar que se abre para que um exército passe a pés secos...) o futuro é fecundo quando Aquele que como uma galinha acolhe os seus pintinhos debaixo das asas (Mateus 23:37), cuida da sua criação ainda que de um modo que nem sempre entendamos completamente, apenas vemos, como que por um espelho (I Coríntios 13:12).

A vida é complexidade! VIDA é a maior obra de arte a ser construída.

REFERÊNCIAS:
BRUNER, J. Realidade Mental, Mundos Possíveis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
GUEDEA, M.T.D;  ALBUQUERQUE, F.J.B; TRÓCCOLI,B.T. e GUEDEA, R.LD. Relação do Bem Estar Subjetivo, Estratégias de Enfrentamento e Apoio Social em Idosos. In: Psicologia: Reflexão e Crítica, v.19, n.2, 2006.
PETERSON, E. H. A Mensagem: Bíblia em Linguagem Contemporânea. SP: Ed. Vida, 2011.
SAFRA, G. Maturidade e Morte. In: http://www.livrariaresposta.com.br/v2/produto.php?id=380
Imagens:
IMAGEM 1  https://www.google.com.br/search?q=trem+noturno+para+lisboa&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=TIvvUuXdH8GmkQeNmYHQDg&sqi=2&ved=0CDoQsAQ&biw=965&bih=454#facrc=_&imgdii=_&imgrc=1a4hQv9KiOiCTM%253A%3BkAjcCvdcVSXveM%3Bhttp%253A%252F%252Fstatic.cineclick.com.br%252Fsites%252Fvideos%252Fimagens%252F1c7ef3bdadccd64a47f1a6fa037e5b51.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.cineclick.com.br%252Ftrem-noturno-para-lisboa%3B640%3B360
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domingo, 2 de fevereiro de 2014

O bem estar importa? - Um pouco sobre a Psicologia Positiva


O tema da Psicologia Positiva é o bem estar,  e seu objetivo é "aumentar o florescimento pelo aumento de emoção positiva, do engajamento, do sentido, dos relacionamentos positivos, e da realização" - afirma Martin Seligman (2011, p.23), psicólogo americano e um dos seus fundadores.


"Florescer" é o título de um dos recentes livros  publicados por Seligman. Neste, o autor explicita a mudança de seu pensamento desde a publicação de outra obra sua intitulada "Felicidade Autêntica", que é também um outro livro instigante. Esta mudança, conforme podemos perceber, é natural, fruto das reflexões de um estudioso que está em pleno processo de produção acadêmica.



A linguagem utilizada em ambas é leve, atraente, e embora ambos sejam livros técnicos, são uma agradável leitura. O autor é envolvente na forma de encadear suas ideias e apresenta-las ao leitor. É uma obra de fácil compreensão que merece ser lida por pessoas que também não são da área da psicologia.

Conforme Scorsolini-Comin "o movimento batizado de Psicologia Positiva surgiu oficialmente nos Estados Unidos em 1997/1998, a partir da iniciativa de Seligman, que com outros pesquisadores, começou a desenvolver pesquisas quantitativas visando uma mudança de foco atual da Psicologia. A proposta é da modificação desse foco de uma reparação dos aspectos ruins da vida para a construção de qualidades positivas ou virtudes." (Seligman & Csikzentmihalyi apud Scorsolini-Comin 2012, p. 433).

Como dissemos anteriormente o tema da Psicologia Positiva é o bem estar. Bem estar, escreve Seligman, "é um construto" e não uma coisa real. Ele é formado por cinco  elementos, estes sim, são mensuráveis, a saber: emoção positiva, engajamento, sentido, relacionamentos positivos e realização. Nenhum elemento isoladamente o define, mas todos contribuem para o compor.  Estes cinco são os pilares do bem estar, e "o que sustenta estes cinco pilares são as forças pessoais" (idem, p.36).

O bem estar pode ser modificado? - pergunta Seligman. E responde: "Se a Psicologia Positiva tem como objetivo produzir bem estar no planeta, o bem estar deve ser passível de ser produzido." (ibidem, p.42). E nos diversos livros de Psicologia Positiva, os psicólogos envolvidos neste movimento, descrevem diferentes estratégias a serem utilizadas para alcança-lo.

Em Florescer, Seligman ao falar sobre emoções negativas, afirma a importância das pessoas aprenderem a "funcionar bem,  mesmo quando se está triste, ansioso ou bravo - em outras palavras, enfrentando-as". (ibidem p.62) e esclarece: "hoje podemos ensinar as competências do bem estar". (p.75). No livro, o autor conta sobre o primeiro programa de mestrado em Psicologia Positiva iniciado na Universidade da Pensilvânia em 2005. Defende que o bem estar deve ser ensinado nas escolas e relata experiências positivas que tem sido obtidas por estudiosos que vem desenvolvendo programas de bem estar para escolas e universidade sobre a sua supervisão (cita o Programa de Resiliência Penn, o Curso de Psicologia Positiva da Strath Haven, o projeto da Escola secundária de Geelong, o Programa de Aptidão Abrangente para Soldados americanos dentre outros) - (ibidem p.94). Aborda também o tema do crescimento pós-traumático, em resposta às pessoas que sofrem do Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), e encerra o livro falando da saúde positiva ou a biologia do otimismo.

Quanto à base que sustenta os cinco pilares que constroem o bem estar : as forças pessoais, Seligman entende que elas precisam ser conhecidas pelas pessoas, para serem utilizadas com mais frequência e encontradas mais e mais formas novas de utiliza-las. Indica que as pessoas possam responder ao questionário de forças pessoais, desenvolvido por Chris Peterson- professor da universidade de Michigan, com o intuito de descobrir as suas.

A Psicologia Positiva tem sido aplicada em vários campos diferentes, e atualmente existem vários estudiosos dedicando-se a explorá-la, estuda-la e realizar pesquisas científicas a partir de um olhar fundamentado nela. Tayyab Rashid criou a Psicoterapia Positiva para pacientes deprimidos em busca de tratamento no Departamento de Serviços Psicológicos e Aconselhamento da Universidade da Pensilvânia. Shelly Gable, professora de psicologia da Universidade da Califórnia, estudou a relação de casais a partir desta abordagem positiva. Bárbara Fredrickson investiga as emoções humanas sobre esta perspectiva, e escreveu um ótimo livro sobre a Positividade, já traduzido para a língua portuguesa pela editora Rocco.



Também uma outra obra de referência que pode ser consultada, já em linguagem bastante técnica abordando o assunto é "Psicologia Positiva" de Snyders & Lopes, publicado pela Artmed.

                   

Ainda é possível encontrar em português o livro de Tal Bem-Shahar intitulado "Seja mais feliz".
 

 
E se você quiser ler uma parábola que combina com as idéias trazidas teoricamente por estes autores, vale a pena ver a primeira parte do livro de Gallagher & Ventura, "Sim na terra do Não".
 
 

Para uma introdução bem resumida e em linguagem muito simples, é possível a leitura da "Cartilha do Otimismo", publicada pela Wak editora.



Vários artigos técnicos podem também serem lidos on-line, dentre os quais, vale a pena destacar "Felicidade: uma revisão", "La Psicología Positiva em perspectiva" e "Psicología Positiva: uma nueva forma de entender la Psicología", cujas referencias podem ser encontradas ao final deste texto.

Para encerrar cito um trecho de Derrick Carpeter (apud Seligman, 2011, p.75) que traduz bem o clima que me envolveu enquanto profissional ao conhecer a Psicologia Positiva, e me levou a adotar algumas das estratégias trazidas por estes estudiosos ao meu trabalho em minha atuação enquanto psicóloga.

"Cheguei a uma encruzilhada onde só procurava abrigo por pouco tempo.
Mas ao pousar minha mala e tirar os sapatos,
Notei que esta encruzilhada era diferente de todas as outras que eu já tinha encontrado.
 
Nesse lugar o ar tinha um calor convidativo
e uma vibração permeava todas as coisas.
ao me apresentar aos viajantes ali,
Não sentia hesitação ou desânimo.
Em seus olhos eu via algo que não conseguia identificar
Mas me fazia sentir como se estivesse em casa.
Nesse lugar, juntos, nós partilhávamos e nos encorajávamos
e regozijávamos na ABUNDÂNCIA DA VIDA."


REFERÊNCIAS:

BAUER, S. Cartilha do Otimismo. Rio de Janeiro: Wak editora, 2013.
BEN-SHAHAR, T. Seja mais Feliz. São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2008.
FERRAZ, R. B; TAVARES, H e ZILBERMAN, M. L. Felicidade: uma revisão. In: Revista de Psiquiatria Clínica. v.34, n.5, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v34n5/a05v34n5.pdf
FREDRICKSON, B.L; Positividade. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
GALLAGHER, Bj e VENTURA, S. Sim na terra do não: uma fábula sobre a superação do pessimismo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
POSECK, B. V. Psicología Positiva: uma forma de entender la Psicología. In: Papéles del Psicólogo, v.27, n.1, 2006. Disponível em: http://www.cop.es/papeles . Acesso em out, 2012.
SCORSOLINI-COMIN, F. Por uma nova compreensão do conceito de bem estar: Martin Seligman e a Psicologia Positiva. In: Paidéia,v.22, n.53,  set/dez, 2012.
SELIGMAN, M. Florescer: uma nova compreensão sobre a natureza da felicidade e do bem estar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
_____. Felicidade Autêntica: usando a Psicologia Positiva para a realização permanente. Rio de janeiro: Objetiva, 2009.
SNYDER, C.R. e LOPEZ, S.J. Psicologia Positiva: uma abordagem científica e prática das qualidades humanas. Porto Alegre: Artmed, 2009.
VÀZQUEZ, C. La Psicología Positiva em perspectiva. Papéles del Psicólogo, v.27, n.1, 2006. Disponível em: http://www.cop.es/papeles . Acesso em out, 2012.


Flávia Diniz Roldão
Psicóloga, Pedagoga e Teóloga.
Psicoterapeuta individual, de casais e familias.
Trabalha com Arteterapia e desenvolvimento humano.
Contato:
flaviaroldao@gmail.com

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Dia da saudade


 (imagem 1)
 
Dizem que 30 de janeiro é o dia da SAUDADE.
Eu nem sabia! Quando comecei a ver as manifestações sobre a saudade no facebook fiquei surpresa: "Uai, saudade tem dia?" - pensei espantada!

Percebi que até ela tem um dia.
Achei interessante, é um dia de nostalgia então? - refleti sorrindo e conversando comigo mesma.

A reflexão evoluiu e eu, que num tempo remoto tinha medo de sentir saudade, porque afinal, saudade dói. Lembrei de algo que certa vez me disseram: "Só temos saudade daquilo que foi bom. Eu quero poder ter muita saudade."

Certo. Porém quem tem saudade é porque perdeu alguma coisa boa que se foi.
Ah... mas se foi, significa que um dia esteve presente (talvez como um presente!). E isso é motivo de celebração e alegria, pois neste caso, a pessoa recebeu um presente (ou alguma 'presença'), mas de qualquer forma, teve oportunidades e possibilidades de viver algo significativo PARA ELA nesta nossa vida única e breve.

Algo bom? Claro, pois saudade mesmo só sentimos daquilo que valeu a pena, daquilo que tivemos e foi bom. Só tem saudade quem teve vivência boa e construiu memórias tão marcantes que ela deseja sempre re-memorá-las.
Pois das nossas construções de memórias nós também deveríamos cuidar! Das lembranças também se cuida!

Mas se é saudade é porque se foi. Tudo bem, se foi, pelo menos você teve "aquilo/ou aquele/ou aquela... coisa/ relacionamento/ momento/ experiência ... que é objeto da sua saudade" nem que seja por um momento.
Então saudade é coisa boa e ruim ao mesmo tempo.

Ah... é como é a vida... sempre feita de contrastes, oposições dançantes que compõem a existência humana.

Ninguém foge da saudade, nem que seja ao menos uma vez na vida. Nem que seja de comer uma comida (aquela especial). Nem que seja de ouvir mais uma vez determinada música. Saudade é formada de lembranças, memórias, histórias.

Depois de algumas elucubrações que me ocorreram sobre a saudade, no Dia da Saudade, eu de repente me peguei dizendo a mim mesma: "Mas deve ser horrível viver de saudade." Isso mesmo, penso que viver de saudade não vale a pena, prefiro viver de construções. Mas é bom poder ter saudade de algumas coisas também.
Dialogando com um poema de Pablo Neruda, eu diria: "Morre lentamente quem não tem saudade."

Afinal, depois de uma certa idade, quando já se acumulou muito mais experiências do que tempo de vida que em potencial ainda resta, ter saudade - de algumas coisas -  pode ser percebido como uma coisa boa: sinal de que  a VIDA VALEU A PENA!

Mas ao mesmo tempo, enquanto há VIDA que pulsa, bom mesmo é VIVER DE CONSTRUÇÕES,  e deixar que a saudade nos habite apenas em momentos específicos, como lembranças de coisas que VALERAM A PENA NA VIDA. Tal qual uma pessoa que folheia um álbum de fotografia contendo um registro dos bons momentos. Afinal, VIDA - só temos uma. E quem vive de saudade, ao se tornar saudosista, enquanto agarra-se a ela perde a oportunidade de viver o PRESENTE, e deixa escapar no tempo as novas experiências que poderia estar vivendo. E cada dia desta nossa vida é único, e não voltará jamais.

E você o que acha? VALE A PENA VIVER DE SAUDADE?
Ou é melhor VIVER DE CONSTRUÇÃO?

 

(imagem 2)

 

REFERÊNCIAS:
IMAGEM 1 publicada em https://www.facebook.com/photo.php?fbid=628172363903534&set=a.625705897483514.1073743888.270793789641395&type=1&theater 

Imagem 2   https://www.facebook.com/photo.php?fbid=454261764675351&set=a.234624476639082.38249.234619246639605&type=1&theater
Vídeo: Publicado em http://www.youtube.com/watch?v=so-BV9R_BAM


Flávia Diniz Roldão
Psicóloga, Pedagoga e Teóloga. Psicoterapeuta individual, de casais e familias. Trabalha com Arteterapia e desenvolvimento humano.
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Os sonhos precisam ser atenciosamente cuidados

(imagem 1)


Quem tem amizades que duram anos sabe, construir uma boa relação de amizade leva tempo, é trabalho de paciência e cuidado. Mas quem planta colhe.
Ouvi dizer que amigos nascem feitos, não os fazemos, apenas os reconhecemos. Você tem reconhecido seus amigos quando os encontra?

Hoje indo viajar para visitar uma amiga cuja amizade vem crescendo já há alguns anos, no trajeto fiquei lembrando de outro momento em que fiz o mesmo trajeto para visitar a família. Momentos diferentes em que estavam a vida de todos nós, pois a vida não espera, ela não para.

Entendem alguns psicólogos, que para ser feliz uma pessoa precisa de 3 coisas: amor, trabalho e lazer. Refletindo enquanto viajava cheguei à conclusão que eu, pessoalmente acrescentaria duas outras coisas a estas três: ter amizades e desenvolver bem a sua espiritualidade. Se cuidarmos de estar realizados nestas 5 áreas: no amor, no trabalho, tendo lazer, amigos e uma boa espiritualidade, entendo que ao menos estaremos próximos da felicidade. Mas conseguir sentir-se bem nestas cinco áreas dá um grande trabalho e se alguém pensa que as coisas vão se resolver em cada uma delas sozinhas por si mesmo, então precisa estar preparado para lidar com frustração na certa. Gosto muito do ditado popular que alerta: Quem não planta não colhe! E diria Clarice Lispector: "A vida só é possível reinventada!"

Mas as vezes lidar com frustração e dor é parte do processo de crescimento na vida. como lembrou Rubem Alves: "Ninguém gosta da dor. Contudo, sem a possibilidade de senti-la um corpo se acha em perigo. A dor está a serviço da vida. Ela é um sistema de alarme que informa ao nosso organismo que algo está errado." Por isso a dor não é ruim. Ruim é não tê-la quando tê-la poderia ajudar no aprendizado e crescimento pessoal e familiar.

Alcançar um equilíbrio exato de satisfação pessoal nestas cinco áreas é algo bastante difícil, contudo, ter um foco claro ajuda na caminhada da vida, pois quem não sabe para onde está indo, pode chegar a um lugar que nunca imaginou estar, e na hora de pegar um caminho na viagem, qualquer caminho vai servir. Depois não adianta reclamar na chegada.
Sonhos entretanto precisam ser cuidados com atenção e carinho. Alertou Alves: "É preciso engravidar o presente." Para ele, "devido ao seu projeto criativo, o homem mostra-se capaz de conquistar o sofrimento. (...) As utopias nascem quando a vida descobre que seu corpo está condenado à morte. E porque a vida quer viver, tem de dizer: "não" ao seu próprio corpo. Tem de elaborar um projeto de metamorfose: a lagarta deve se converter numa borboleta. Mas para que isto ocorra a lagarta tem que desaparecer."

Você tem cuidado dos seus sonhos? Quais são os seus sonhos em cada uma destas áreas? Qual destas áreas merece mais da sua atenção e cuidado em 2014?

Vale a pena cuidar dos seus sonhos. Os sonhos precisam ser atenciosamente cuidados. Mas para poder cuidá-los, é preciso antes, saber tê-los. Sabe-los !!!



"...Para o deserto converter-se num jardim não basta arrancar espinhos e cardos: deve-se plantar flores e pomares" escreveu Rubem Alves, e este indicador trazido por ele, precisa ser aplicado tanto no amor, no trabalho, no lazer, nas relações de amizade, e no desenvolvimento da espiritualidade. Nada na vida surge do nada. Tudo é fruto de intencionalidade e atenção aplicada: trabalho, atividade.

"Criar aqui neste momento o lugar agora possível para aquilo por que aspiramos, de maneira que ele possa se realizar depois." (Martin Buber citado por Rubem Alves)




REFERÊNCIAS:
ALVES, Rubem. A gestação do futuro. 2 ed. SP, Campinas: Papirus, 1987.
Imagem 1 disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=rD6akIBTqWU
Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=rD6akIBTqWU 


Flávia Diniz Roldão
Psicóloga, Pedagoga e Teóloga. Psicoterapeuta individual, de casais e familias. Trabalha com Arteterapia e desenvolvimento humano.
Contato: flaviaroldao@gmail.com

sábado, 4 de janeiro de 2014

O filme: Álbum de Família


Álbuns são compostos por fotos. Fotos mostram a diversidade, a composição, e registram/guardam/marcam os diferentes momentos (cenas congeladas).

O filme "Álbum de Família", de John Wells, é tenso, denso! Dá a vontade de desistir de assisti-lo em vários momentos. É muita gritaria, muito problema junto... ou melhor, uma coleção de cenas (fotos) de problemas juntos. Arte imitando a vida?

Já alertou a terapeuta familiar Froma Walsh: "Dois MITOS da família 'normal' perpetuam uma visão triste da maioria das famílias. Um é a crença de que as famílias saudáveis são isentas de problemas. (...) Essa crença -[diz Froma, citando outro terapeuta familiar chamado Minuchin] tendeu a patologizar as famílias comuns que procuram enfrentar os estresses e as mudanças desorganizadoras que fazem parte da vida (Minuchin, 1974 apud Froma, 2005). Nenhuma família está isenta de problemas. Coisas desagradáveis do infortúnio atingem a todos, de várias maneiras e em vários momentos da vida. O que distingue as famílias saudáveis não é a ausência de problemas, mas a maneira de enfrenta-los e a competência para resolver um problema. Um segundo mito é a crença de que a 'família tradicional' idealizada é o único modelo possível para uma família saudável. Para a maioria, isso invoca a imagem, da década de 1950, de uma família branca, rica e nuclear conduzida por um provedor/pai e apoiada por uma dona-de-casa/mãe em tempo integral."
São mitos estes, pois, conflitos, problemas, crises, mudanças e estruturas diferentes de famílias são realidades presentes desde sempre. E as famílias mesmo dentro do padrão que se poderia chamar "família tradicional", enfrentam muitos problemas e crises.

O que é uma família?
Um sistema de alta complexidade. Um sistema em constante movimento/mudança. E é justamente a simplificação e estagnação deste sistema, que pode torna´- lo disfuncional. São pessoas diferentes, interligadas e influenciando-se mutuamente de forma recursiva.


É na difícil lida com as diferenças, os segredos, as verdades, os sonhos, as lealdades, as fragilidades e as forças, que a família vai construindo a sua história. A história da família. São nos momentos de maior fragilidade, que os pontos não trabalhados na família emergem, suscitando a necessidade de enfrentamento de questões delicadas que foram sendo deixadas de lado, ou "jogadas para debaixo do tapete", mas que urgem então com força total e suscitam serem lidadas.

A união ou desunião nestes momentos faz diferença! Alertou Froma: "Quando os membros da família se unem para enfrentar o desafio, seus vínculos são fortalecidos e os indivíduos podem desenvolver novas áreas de competência." (p.19). Mas esta não é a realidade encenada neste filme. Por isso mesmo tão tenso. Por outro lado, ele ilustra bem o que escreveram Hadley et. al: "Um evento fundamental ou transição perturbadora pode catalisar mudança significativa em um sistema de crença familiar, com reverberações para a reorganização imediata e para a adaptação a longo prazo."(Hadley et al apud Froma, 2005, p. 21). E talvez poucos eventos familiares sejam tão significativos e mobilizadores a uma mudança quanto as perdas, e especialmente a morte.
Lembra-nos Figley que "eventos catastróficos que ocorrem de repente e sem aviso podem ser especialmente traumáticos" (apud Froma, ibidem). E destaca Froma que, "as reverberações, como uma onda de choque, podem se estender por todas as redes familiares(...) em consequência, algumas famílias são devastadas ao passo que outras conseguem se reunir, reerguer e ir em frente." (ibidem). Essa onda de reverberações fica muito bem ilustrada no filme. Após esta morte e o processo posterior vivido pela família, seus membros jamais serão os mesmos, a vida de cada um deles sofrerá mudanças profundas. Para seguir em frente, cada personagem do filme necessitaria criar competência nova e renovada.


Abordando o tema da resiliência familiar, ou seja, dos "processos de preparação da família como uma unidade funcional para o enfrentamento e adaptação às crises e problemas", Froma Walsh destaca que, essa abordagem da família visa "identificar e fortalecer processos interacionais fundamentais que permitem às famílias resistir aos desafios desorganizadores da vida e renascer a partir deles. (...) Muda a perspectiva de se encarar as famílias em situações de angústia como defeituosas, para encará-las como DESAFIADAS, ratificando o seu potencial para o reparo e o crescimento." (p.3).

O evento da morte pode ameaçar a funcionalidade familiar. Mas a morte é parte da vida, uma certeza a ser vivida e enfrentada pelas famílias, de sorte que o trabalho profilático e preventivo pode ser estratégia fundamental no trabalho de saúde mental com famílias. Uma coisa é certa, como bem destacou Froma, a morte exige adaptações, ela deixa buracos e exige reorganizações.





REFERÊNCIAS:
WALSH, Froma. Fortalecendo a Resiliência Familiar. SP: Roca, 2005.
Imagens disponíveis em: http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/em-album-de-familia-as-relacoes-familiares-levadas-ao-extremo
Vídeo: disponível em http://www.youtube.com/watch?v=NME3l2MvpnM 
                             http://www.youtube.com/watch?v=-IRFxJI0Rm8

Flávia Diniz Roldão é psicóloga, psicoterapeuta familiar e de casais, professora universitária. Contato: flaviaroldao@gmail.com