"Quem quer mudar o mundo precisa primeiro mudar a si mesmo." (Sócrates)
Todos estamos envelhecendo. Como seres humanos, somos seres de escolhas e intervimos em nosso futuro. É preciso/possível (dentro de certos limites e naquela parte da vida sobre a qual temos influência) escolher como queremos envelhecer.
Queremos envelhecer-SENDO?
O filme "Um senhor estagiário", aborda brilhantemente as diferenças intergeracionais e a ação intensional humana sobre o seu próprio processo de vida na terceira idade.
Mostra que não é preciso aceitar passivamente o movimento da vida, que por vezes nos empurra à margem dela. Seres humanos são seres de ação intensional e reflexão, seres de escolhas, possíveis de intervir sobre o seu próprio curso de vida.
Claro que... pra isso é preciso ter energia canalizada e vontade. Desejo. Mas "o desejo tem idade?"
Somos seres de necessidades. E em busca da satisfação destas, temos a possibilidade de agir sobre o mundo... e sobre nós mesmos. Aliás, as vezes o agirmos sobre nós mesmos é um desafio maior do que o agir sobre o mundo, pois afinal, tudo começa com o desejo e a necessidade. Quem toma consciência dos seus desejos e suas necessidades, terá maiores probabilidades de agir sobre eles com criatividade, imaginação, e o uso de instrumentos físicos e psíquicos no processo de construção da sua realidade. Seres humanos são seres dinâmicos, seres em movimento e mudança. Enquanto há VIDA, é preciso FAZER A GESTÃO dela.
O filme destaca que a experiência dos idosos pode ser sabia e dinamicamente bem aproveitada. Trata do sensível tema da APOSENTADORIA, ou quem sabe melhor dizendo... da DES-APOSENTADORIA intencional. Expõe brilhantemente a inteligência das trocas intergeracionais na construção da vida humana. Vida que não pode cessar enquanto há respiração para não MORRER EM VIDA.
Cada dia é um dia NOVO, quando as pessoas estão abertas, atentas e ativas no processo de construção contínua da sua história de vida. Vida mediada pelas condições sócio-históricas que precisam ser enfrentadas no embate concreto do cotiano. Porém, as relações que estabelecemos com os outros, com os fatos e com a cultura na qual estamos inseridos, é sempre uma possibilidade aberta para a realização de novos movimentos de vida.
O filme lembrou-me uma história real, a da psiquiatra Nise da Silveira, que conforme relato, volta a trabalhar após aposentada no Museu Imagens do Inconsciente, que ela própria ajudou a criar por ocasião de seu trabalho regular.
Seres humanos são seres intencionais. Capazes de fazerem as coisas acontecerem. Capazes de agirem sobre sua realidade transformando-a, e transformando a si.
Somos seres de relação. Influenciamo-nos uns aos outros mutuamente neste processo. Deixamos marcas na vida - nas nossas e nas dos outros com os quais convivemos.
Criamos história. A nossa, e ajudamos a criar outras histórias, participando das histórias dos outros.
Não podemos nos EXIMIR DA TAREFA DE VIVER. Só podemos escolher COMO vamos viver a nossa vida (e lidar com as limitações impostas).
William Ury, co-fundador da Harvard Negotiation Project, especialista em negociação, dá uma dica sobre como negociar consigo mesmo. Destaca que a auto-observação é a base para o domínio de si mesmo. E pergunta: "Quantos ouvem regularmente a si mesmos com empatia e compreensão - com a mesma solidadriedade de um amigo de confiança?" Já cantava Roberto Carlos: "É preciso saber viver!"
Retoma Ury:"Três iniciativas podem ser úteis: primeiro, procure se distanciar de si mesmo e se ver a partir 'do camarote'. Segundo, ouça com empatia seus sentimentos mais recônditos, mais íntimos, para intrerpretar o que eles realmente lhe dizem. Terceiro, MERGULHE ainda mais no SEU INTERIOR e DESCUBRA quais suas NECESSIDADES MAIS FUNDAMENTAIS."
Concordo com Ury que afirma ser preciso "obter sucesso na disputa mais importante de todas - o jogo da vida."
Finalizo o diálogo estabelecido comigo mesma ao término deste filme, lembrando um poema de Lya Luft:
PERDER E GANHAR
(Lya Luft)
Com as perdas, só há um jeito:
perde-las
Com os ganhos,
o proveito é saborear cada um
como uma fruta da estação.
A vida, como um pensamento,
corre à frente dos relógios.
O ritmo das águas indica o roteiro
e me oferece um papel:
ABRIR O CORAÇÃO COMO UMA VELA
ao vento, ou pagar sempre a conta
já VENCIDA.
REFERÊNCIAS:
BRUNS, M.A.T.O desejo tem idade? In: _____. e DEL-MASSO, M.C.S. Envelhecimento Humano: diferentes perspectivas. Campinas, SP: Alínea, 2007.
LUFT, L. Para não dizer adeus. 3 ed. RJ:Record, 2005.
URY, W. Como chegar ao sim com você mesmo: o primeiro passo em qualquer negociação, conflito ou conversa difícil. SP: Sextante, 2015.
Filme: Um senhor estagiário.
Filme: Um senhor estagiário.
Imagens coletadas na internet.
Flávia Diniz Roldão
CRP 08/15268
Psicóloga
Atendimento individual, de Casais e Famílias.
flaviaroldao@gmail.com